terça-feira, 6 de outubro de 2015

A frieza inerente a medicina


     Médicos em geral abusam de você. Parece que para ele você não é sujeito com problemas pessoais que reverberam em seu comportamento, o que importa para eles é o que você fez, a partir da visão sobre o que você fez; eles tentam te “ajudar” da mesma forma que “ajudam” todo o resto. Eles esquecem uma coisa chamada “subjetividade”; lembro das minhas leituras de Foucault e vejo que o filósofo não esta apenas certo, e vejo também que a medicina continua a mesma – focada no positivismo e excluindo singularidades do sujeito, tudo para que nós nos transformemos em mais um tijolo na parede.
     A tentativa médica de nos enquadrar é falha e perversa. O NOSSO corpo deixa de ser nosso e passa a ser deles, pois a “vontade de verdade” que os médicos possuem, vira desculpa para nos silenciar. Pois “ele sabe”. No fim das contas os médicos não sabem, porque ele aplica a um o que aplica a todos e vice-versa.
     A arrogância médica é notória, eles pensam que pairam sobre o mundo. Além de tudo, observa-se uma frieza, um modo glacial de tratar as pessoas. Entendo que o emprego é corrido e devem dar conta de todos, afinal, a medicina é social, mas eles assumem a postura de deuses, fazem de seu emprego um panteão, onde eles mesmos se adoram e exigem que os outros o faça.
     As pessoas chegam no hospital como o pó do que foram, elas esperam o cuidado, esperam das cinzas renascerem, e esperam do médico isso. Mas o sujeito recebe sermões das enfermeiras e a frieza de todo mundo que jaz ali, depois sai pior do que entrou, porque ao invés do cuidado o sujeito é colocado em situações embaraçosas, têm seu corpo automatizado e sua subjetividade é negada por esses profissionais de saúde. Como eu falei no início do texto, eles não se interessam por nada mais que não seja o que você fez, mas o que te levou a fazer certas coisas é o que configura a gênese do que te levou a estar ali, sem essa “gênese” nem ali você estaria.
Há quem adore a medicina e pensa que os médicos são médicos porque se importam com a humanidade. Que falácia! Quem se importa não te trata como máquina, quem se importa quer saber os porquês, até a própria psiquiatria, que seria responsável pela resolução de conflitos internos para que você tenha qualidade de vida, não se importa com “o que te levou”. Não falo isso por uma má experiência com um único médico, falo por ter tido contato com uma quantidade considerável de médicos, que vai desde clínico geral até psiquiatras.
     Conquanto eu tenha minha queixas a respeito dos médicos , ainda assim minha revolta é contra o positivismo. Contra a universalização, ao apagamento do sujeito, todas essas variáveis que tornam a medicina um saco. O médico na posição em que esta é levado pela alienação a ter um comportamento positivista, universalizante, frio até, o próprio trabalho os leva a frieza, lidam com gente morrendo e sofrendo o tempo inteiro, um suicida pra eles é inócuo.
     No fim das contas “não é problema deles”, eu só não suporta a falácia da medicina como produto do amor. Quem ama não só enxerga outro, existe alteridade, coisa que os médicos não tem por excesso de contingência e pela banalidade do sofrimento alheio. Eles fazem umas perguntas e depois tomam decisões, onde esta ao alteridade?, vejo é autoridade.

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