domingo, 30 de agosto de 2015

"Vou te viciar na minha droga" - Indústria farmacêutica

   A dependência do Clonazepam é uma merda, se eu estou abstêmio e mal, basta que eu tenha o comprimido em mãos para que eu me sinta melhor; ele passa tranquilidade e segurança na verdade ele foi o único lugar onde achei tranquilidade e segurança; eu poderia ter encontrado um centro de outras maneiras, mas ao invés de me darem amor me deram remédios.

   A minha vida também não chega a ser autossuficiente porque tenho um remédio que supre algumas necessidades emocionais, eu sempre estou à caça de alguém que suplante o clonazepam e me dê segurança e tranquilidade. O que eu queria não era me viciar em outro ser, mas tê-lo como um co-construtor de mim, onde numa interação (positiva) eu tivesse ferramentas para aprender a ser livre, não ter medo ou vergonha de mim, não me cobrar tanto a ponto de ser despótico comigo mesmo.

   Hoje um parente estava com umas caixas de Citalopram, estavam perto do vencimento e ele conseguiu pegar para entregar a um tio meu. Eu pensei em ficar com pelo menos uma caixa, na tentativa de artificializar a minha vida, colocar uma porra de uma cor, completar os espaços, viver na utopia, mas sem me desligar totalmente da realidade (se você se desliga totalmente, você é cuspido do mundo, como vemos nos hospícios). Não fiquei com a caixa, eu sei como são os antidepressivos por experiência própria, eles não te deixam chapado de modo que você perceba, você simplesmente esta chapado e nem disso você se dá conta, diferente da maconha, a chapação do antidepressivo não "abre a sua mente", ela te prende na sua visão monolítica, você deixa de amadurecer porque o mundo exterior não interage com o seu mundo.

    Não sei se passei o sentido errado, não sou contra a viver cada qual em seu mundo com seus antidepressivos, mas sei o quanto isso me prejudicou, porque eu poderia ter dialogado mais com o externo, eu poderia entendê-lo melhor agora, e é justo agora, sem antidepressivo que estou refletindo.

   A respeito das drogas ilícitas, considero-as melhores que antidepressivos. Não experimentei todas, pelo contrário, tenho muito pouca experiência com as ilícitas, dependendo da droga o desligamento do mundo não ocorre, algumas parecem te desligar, mas estão te mandando mensagens através de sensações que nem sempre são boas, apesar de tudo, no final existe a reflexão. Não é algo universal, nem é fácil de explicar, mas mesmo não tendo controle de si, você "sente", com o antidepressivo não, a experiência com a viagem é um estado inefável que eu estou aqui tentando descrever. Quando você tem uma bad, você acaba caindo na real sobre certas questões na sua vida, e com antidepressivo você não cai na real, então você fica estagnado.

   Chega a ser irônico que drogas que te deixam tão alheios são legais e as que te abrem a mente, ilegais. Quando dizimaram os índios da europa, usaram o tão aclamado álcool (deixaram os índios alheios e viciados), a droga que se usa em família como um elemento confraternizador.

    Então o Estado propõe que você pode se desligar do cotidiano se quiser, mas tem de ser com a droga que ele escolher, seja ela viciante, cheia de efeitos colaterais ou tão deletérias a ponto de superar em danos muita droga ilegal por aí. A droga dada pelo Estado não é uma droga qualquer, é uma ferramenta de controle, é uma droga alienadora, que te dessubjetiva, que não leva à reflexão. Falei que droga prescritiva era viciante. mas vou endossar: E como vicia! Efeitos colaterais? É o que não falta, sendo as vezes necessário outro alopático pra acabar com o efeito colateral do remédio anterior.

    O Estado te obriga então a ir em lugares onde você nunca foi, tratar com pessoas que você nunca viu, em um ambiente completamente tenso; quem vende esta em estado de alerta para não ser preso, podendo desconfiar de você ou ser na melhor da hipóteses apenas hostil --na melhor! Quem compra não sabe nem o que esta comprando, já que não tem essa de analisar detalhadamente o produto, isso quando se consegue comprar, porque num ambiente onde reina o medo de ser preso, os que vendem preferem vender pra alguém conhecido --o intermediário.

     Alguns lugares são ruas desertas, no topo de uma ladeira, com pouca luz, às vezes você entra em uma zona praticamente fechada, onde todos se conhecem e não há fluxo de pessoas, senão dos próprios moradores, logo, você é o desconhecido ali, você esta só. Tudo isso pra comprar uma porra de um prensado e fazer o que você quiser com SEU corpo, usando a droga que você escolheu, por meios legais você não tem autonomia sobre o seu corpo, ele só constitui o corpo social e a merda do Estado maneja.

     A merda do Clonazepam é péssimo pra largar, principalmente pra quem deposita nele um papel de centro, mas culpa é de quem usa então? Não! A culpa é do próprio comprimido que te faz se sentir O Poderoso Chefão, a culpa é de quem prescreve essa porcaria para todo mundo e para quase tudo, ele vicia quimicamente e a própria caixa alerta sobre isso. Se não me fosse dado o Clonazepam eu teria outros meios para construir minha segurança, mas resolveram atrasar isso, uma medida bem fácil para os meus pais, porém difícil para mim que tenho de lidar com vários efeitos colaterais e o vício. E eu não escolhi, eu era uma criança, não sabia nem quais eram os remédios que estavam me dando.


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